Ideias de segurança pública da esquerda não saem do papel, diz ex-ouvidor

Benedito Mariano lança livro sobre segurança pública e critica falta de avanços do campo progressista

O ex-ouvidor das Polícias de São Paulo e ex-secretário de Segurança Urbana nas gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad, Benedito Mariano, de 65 anos, afirma que a esquerda não priorizou a segurança pública nas últimas décadas.

Em seu novo livro, “Segurança Pública – O calcanhar de Aquiles da esquerda e do campo democrático”, que será lançado na segunda-feira (27), Mariano analisa como o campo progressista tem abordado o tema. Segundo ele, embora tenha produzido boas propostas, a esquerda falhou em implementá-las quando esteve no poder.

Crítica à omissão da esquerda

Mariano destaca que a extrema-direita aproveitou a omissão progressista na área de segurança pública para se fortalecer politicamente.

“Diria que as principais propostas de reforma no sistema de segurança foram produzidas pela esquerda e pelo campo democrático. O problema é que, quando a esquerda chega ao governo, essas propostas não saem do papel.”

Ele aponta que há poucas experiências concretas de governos progressistas que implementaram novos paradigmas de segurança pública.

“Bolsonarização” na segurança pública

Mariano destaca que o fortalecimento do bolsonarismo é evidente em instituições como a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar de São Paulo.

“A PRF foi a instituição federal mais contaminada com o bolsonarismo. É necessário que os responsáveis sejam julgados e condenados com rigor, e a instituição precisa passar por reformas profundas.”

Ele também criticou as operações da PM de São Paulo, durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite, apontando sinais de milicialização.

“Jogar um cidadão da ponte e executar jovens à queima-roupa são ações características de milícias. O caso do empresário morto no aeroporto é o mais grave da história recente da segurança pública no estado, evidenciando o envolvimento de policiais com o crime.”

“Ouvidoria paralela” não terá efetividade

Sobre a recente nomeação da delegada Dilene Squassoni para comandar uma ouvidoria subordinada à Secretaria de Segurança Pública, Mariano a classificou como uma iniciativa sem autonomia.

“Essa ouvidoria chapa branca foi criada para ofuscar o trabalho do órgão independente. Derrite se mantém como secretário porque é alinhado ao bolsonarismo.”

Cracolândia e política repressiva de segurança

Mariano criticou a abordagem repressiva do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), em relação à Cracolândia.

“A postura de Nunes, cantando ‘gás de pimenta na cara de vagabundo’, reflete uma visão mais repressiva do que preventiva. Ele está se alinhando à política desastrosa do governo do estado.”

Para Mariano, o enfrentamento da Cracolândia exige políticas de redução de danos, combinando saúde e trabalho, e uma atuação rigorosa da Polícia Civil contra traficantes. “As operações faraônicas apenas criam tensão e não trazem resultados concretos.”

Livro traz propostas e reflexões sobre segurança pública

No livro, Mariano reúne artigos que analisam falhas e avanços nas políticas de segurança pública, propondo alternativas que conciliem prevenção e repressão. Ele defende a criação de um Ministério da Segurança Pública autônomo e uma reforma ampla nas instituições de segurança.

A obra promete abrir um importante debate sobre o papel do campo progressista na segurança pública e os desafios para implementar reformas em um contexto político conservador.

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