
Reinventar a Narrativa de “Cultura” para “Mercado”
Repensando a Captação de Recursos no Audiovisual para Grandes Marcas Globais
A dificuldade histórica na captação de recursos para produções audiovisuais está enraizada em uma desconexão entre as expectativas das empresas investidoras e a proposta de valor apresentada pelos produtores. Enquanto marcas globais buscam projeção de crescimento, legado de marca e ROI claro, o setor ainda prioriza argumentos assistencialistas ou focados apenas em benefícios fiscais. Para superar essa barreira, é necessário uma reestruturação estratégica, alinhada às demandas do mercado de investimento moderno.
1. Reposicionar o “Porquê” do Investimento: Além dos Incentivos Fiscais:
Grandes marcas não investem apenas para reduzir impostos (como os 3-4% do IR permitidos pela Lei do Audiovisual ), mas para associar-se a conteúdos inovadores que reforcem seu posicionamento global. Exemplos bem-sucedidos, como a integração de marcas em séries da Netflix ou produções hollywoodianas, mostram que o valor está na eternização da marca em narrativas relevantes.
– Proposta Chave: Produtores devem estruturar projetos que ofereçam integração criativa da marca (ex.: storytelling co-criado, product placement estratégico) e métricas claras de alcance (ex.: projeção de audiência em plataformas globais).
2. Simplificar o Acesso e Transparência no Processo:
A Lei do Audiovisual exige que projetos sejam aprovados pela ANCINE e vinculados a critérios técnicos complexos (como classificação de obras e depósito de 50% dos recursos). Para atrair investidores corporativos, é essencial:
– Plataformas de Matchmaking: Criar hubs digitais (similares ao modelo do Captable para startups ) que conectem marcas a projetos audiovisuais pré-qualificados, com dados transparentes sobre ROI potencial e alinhamento estratégico.
– Consultoria Especializada: Oferecer suporte para empresas navegarem na burocracia (ex.: emissão de certificados de investimento, compliance com a CVM).
3. Alavancar Parcerias Estratégicas e Fundos Temáticos
Grandes empresas globais já investem em venture capital para inovação (ex.: corporate ventures em deep techs ). O audiovisual pode seguir esse modelo, criando fundos temáticos focados em:
– Conteúdo Sustentável: Atrair marcas com metas ESG, usando produções que abordem temas como diversidade ou sustentabilidade, com certificações de impacto .
– Tecnologia Imersiva: Parcerias com empresas de VR/AR para experiências publicitárias inovadoras, como já ocorre em eventos da Play Audiovisual .
4. Dados e Performance: A Linguagem que as Marcas Entendem
Enquanto produtores focam em argumentos artísticos, investidores globais demandam projeções financeiras e métricas de engajamento. É crucial:
– Modelos de Negócio Híbridos: Combinar receitas de streaming, merchandising e licenciamento internacional, como fazem produções coreanas (US$ 970 milhões em bilheteria em 2023).
– Cases de Sucesso: Destacar exemplos como a Lei do Audiovisual, que gerou R$ 1,6 bilhão em recursos para o setor em 2024 , mostrando o potencial de escala.
5. Reinventar a Narrativa de “Cultura” para “Mercado”.
A indústria audiovisual brasileira precisa se reposicionar como um mercado em expansão, não apenas um setor cultural. Dados como o crescimento de 23,3% na participação de filmes nacionais em salas de cinema (até 2019) comprovam seu potencial econômico. Para marcas globais, é mais atraente investir em um setor visto como estratégico para inovação e conexão com jovens públicos do que como “apoio à cultura”.
Conclusão: Do Assistencialismo ao Investimento Estratégico
O futuro da captação no audiovisual depende de uma mudança de mentalidade:
1. Comunicação Clara: Transpor benefícios fiscais para oportunidades de branding global.
2. Estrutura Profissionalizada: Adotar modelos de pitch semelhantes aos de startups (ex.: pitch decks com TAM, SAM, SOM).
3. Parcerias com Ecossistemas de Inovação: Engajar fundos de private equity e corporações em co-produções com retorno tangível.
Enquanto a Lei do Audiovisual abre portas fiscais, o verdadeiro salto virá quando o setor entender que grandes marcas não querem “doar”, mas sim investir em legado e crescimento mútuo.
Rodrigo Hunter 71996046061 [email protected] https://www.instagram.com/rodrigohunteroficial