EDUCAFRO processa CBF e Conmebol por omissão no combate ao racismo no futebol latino-americano

A EDUCAFRO Brasil, organização da sociedade civil que atua pela inclusão e igualdade racial, entrou com uma Ação Civil Pública contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). O motivo é grave: as duas entidades estariam sendo omissas e coniventes com os inúmeros casos de racismo que vêm ocorrendo nos estádios de futebol da América Latina.

A ação, protocolada na Justiça brasileira, pede que CBF e Conmebol sejam responsabilizadas por não tomarem medidas eficazes para prevenir, punir e combater o racismo. Além disso, a EDUCAFRO solicita uma indenização de R$ 750 milhões, valor que seria destinado ao Fundo de Reconstituição dos Bens Lesados, com o objetivo de investir em ações que promovam justiça e igualdade para a população negra no Brasil.

A iniciativa tem um propósito claro: garantir que cenas de racismo não se repitam mais no futebol. Segundo a EDUCAFRO, há uma longa lista de episódios envolvendo discriminação racial em jogos de clubes e seleções latino-americanas, e as respostas das entidades responsáveis têm sido fracas ou inexistentes.

Casos frequentes e punições brandas

Entre os diversos exemplos, a ação cita o caso do jogador Luighi Hanri Sousa Santos, da equipe sub-20 do Palmeiras. Durante um jogo da Libertadores Sub-20 contra o Cerro Porteño, no Paraguai, Luighi foi alvo de ofensas racistas por parte de um torcedor que o comparou a um macaco — e tudo foi registrado pelas câmeras de TV. Mesmo com provas claras, a punição aplicada pela Conmebol foi considerada simbólica: uma multa de US$ 50 mil ao clube paraguaio e jogos com portões fechados.

A EDUCAFRO argumenta que essa postura envia uma mensagem perigosa: a de que o racismo pode continuar acontecendo sem consequências reais. Para a organização, falta seriedade e vontade política das instituições para enfrentar o problema de forma concreta.

Além do caso de Luighi, há diversos outros episódios de racismo registrados nos últimos anos envolvendo jogadores negros em competições sul-americanas, especialmente nas organizadas pela Conmebol, como a Libertadores, a Sul-Americana e as Eliminatórias da Copa do Mundo. Os relatos incluem xingamentos, sons imitando macacos, gestos racistas vindos de torcedores e até mesmo declarações infelizes de dirigentes.

Declaração ofensiva do presidente da Conmebol

A ação também chama atenção para uma fala recente do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, durante o sorteio das fases de grupos da Libertadores e da Copa Sul-Americana. Na ocasião, ele afirmou que uma Libertadores sem brasileiros seria como “Tarzan sem Chita”, fazendo referência a personagens que reforçam estereótipos ultrapassados e racistas. A frase teve repercussão negativa e foi duramente criticada por ativistas e especialistas.

Lutar por justiça é um direito

De acordo com o advogado Sandro Luís Silva Santos, coordenador jurídico da EDUCAFRO, o processo busca muito mais do que uma indenização. O objetivo é acabar com a impunidade e exigir que instituições poderosas respeitem a dignidade dos atletas e torcedores negros.

“Esse processo é necessário para garantir que atos racistas não sejam tratados como algo normal. A Conmebol e a CBF precisam ser responsabilizadas por sua omissão. A Justiça pode e deve ser usada como instrumento para proteger os direitos da população negra”, afirma o jurista.

O diretor executivo da ONG, Frei David Santos OFM, reforça que é papel da sociedade civil exigir mudanças estruturais no futebol.

“O racismo no futebol é sistemático e tem sido tolerado por anos. Está mais do que na hora de responsabilizar quem se omite. A CBF, como representante nacional, não pode continuar ignorando o problema. É preciso dar um basta.”

A EDUCAFRO também pede que a Conmebol passe a ter representação legal no Brasil, para que possa ser acionada com mais facilidade e submetida ao controle judicial sempre que houver violações de direitos.

Um passo importante para mudar o futebol e a sociedade

A Ação Civil Pública da EDUCAFRO é um marco importante na luta por um futebol mais justo, respeitoso e livre de racismo. Ela mostra que buscar seus direitos é essencial para transformar a realidade, especialmente quando se trata de combater um problema tão grave e enraizado como o racismo.

Ao mover essa ação, a EDUCAFRO envia um recado claro: o silêncio não será mais tolerado. O futebol precisa se transformar — e a Justiça pode ser um dos caminhos mais poderosos para isso acontecer.

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